quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Vida de Interior.

            Nunca neguei a niguém que sou fã da vida do interior, não que eu queira morar em um, por nenhum grave motivo, apenas pelo costume do modo de vida urbano. Por isso fico satisfeito com algumas idas a alguns dos interiores do estado.
            Numa dessas visitas recentes, tivemos a oportunidade (Eu, Felipe e Rodrigo) de conversar com alguns moradores de algumas cidades. Não foi um questionário, mas sim conversas espontâneas. Uma senhora com seus 70 anos que fazia tapioca de 7 horas da manhã, sorrindo e dizendo que nós éramos meninos bons, que a vida era muito linda. Um garçom que nos contava da vida de todo mundo na cidade. Um papudo que nos falava... bem , ele não falou nada, pelo menos que a gente entendeu.
            Tenho raízes interioranas. Minha família é do interior, por isso desde garoto sempre vou a alguns. Mesmo nesse tempo que vou ainda fico impressionado como é grande a bondade e a verdade existente na maioria desse  povo. A satisfação com que eles lhe dão uma informação; a empolgação com que eles lhe dão um bom dia, mesmo que você não tem dado um bom dia, mas sim um rápido “opa”.
            A sociedade urbana, nas cidades grandes, está perdendo esses valores, ou melhor, estão invertendo esses valores. Vivemos num mundo onde fazer o errado é o correto e o correto é errado. Se acharmos um celular e devolver nós somos imbecis, bestas, babacas. Se recebermos um troco maior do que o correto e avisarmos ao comerciante, somos taxados da mesma coisa, ou seja, a honestidade é vergonha. E o pior de tudo é que as crianças estão aprendendo isso, e muito bem por sinal.
            Tenho certa experiência com essa faixa de idade e às vezes fico observando o comportamento da juventude (falei como se tivesse uns 50 anos agora). Nessa idade o que vale é ser escroto, tirar zero, dar em cima de todas na sala, ser brabo e impor respeito. O estudioso tem vergonha de tirar 10, o educado que dá bom dia e pede licença logo recebe um:”eeeeeeeeescow”. E assim esse povo vai crescendo, e conseqüentemente passando esses ensinamentos à sua ninhada.
            O pior disso é que o preconceito é daqui, da cidade, para o interior. Nós os taxamos de matutos. Matutos por que muitas vezes não sabem falar certo, por que não sabem se vestir, por que não são formados, etc.
            Matutos somos nós que não damos mais valor às coisas simples da vida; somos nós que não nos relacionamos mais com os vizinhos, que quando ouve um bom dia de um cobrador de ônibus, por exemplo, nos assustamos. O povo na rua parece ser nossos inimigos, passamos com tudo, de cabeça baixa.
            Temos muito que aprender com esse povo. Aprender que a palavra de um homem vale muito mais que mil papeis assinados; aprender a respeitar os outros; respeitar principalmente os mais velhos; aprender o valor de uma família; aprender o valor de um copo d’água e de um prato de feijão. Orgulho-me de ter raízes no interior, me orgulho de ter tido uma educação rigorosa, onde aprendemos valores. Aprendemos a respeitar.  
            Decidi escrever isso não sei por que. Talvez por que tenha me lembrado da cara da senhora da tapioca, ou do garçom que era escroto demais, ou talvez por que iríamos para Parelhas esse final de semana. Por que quem não sabe o que é uma festa no interior, aí sim é matuto de verdade.
            Pra finalizar postarei um poema de Zé Cardoso, declamado por Santanna, O Cantador, na música Xote Universitário:

Aprendi a cantar sem professor, com a graça de Deus eu sou completo,
Você vem me chamar de analfabeto, exibindo diploma de
doutor
No congresso que eu for competidor, vou ganhar de você
de 10 a 0
Bastião eu vou ser muito sincero, se eu deixar de
cantar não sou feliz
Ser poeta eu sou porque Deus quis, ser doutor eu não
sou porque não quero.

Por Willen Ferreira Lobato

Um comentário:

  1. Me arrepiei toda lendo! Tbm tenho raízes num interiorsinho que deve ter uns 10 mil habitantes e concordo d+ qndo vc diz q matuto somos nós, os da "capitar" (rsrs).
    Tive um momento de nostalgia agora...
    Camila Araújo

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